Gerentes de geotecnia da mineradora Vale não admitem falhas no monitoramento da barragem que se rompeu em Brumadinho, em 25 de janeiro. Um dos ouvidos nesta terça-feira (4) pela CPI da Câmara que investiga o caso foi César Grandchamp, que, em setembro de 2018, assinou o laudo de estabilidade da barragem juntamente com o engenheiro Makoto Namba, da empresa alemã Tüv Süd. Na época, Grandchamp já não era mais gerente de geotecnia da Vale, cargo que ocupou por cerca de sete anos, até agosto de 2017. Ao relator da CPI, deputado Rogério Correia (PT-MG), César Grandchamp justificou porque assinou o documento em nome da Vale, apesar do histórico de problemas
estruturais da barragem da mina do Córrego do Feijão. “Eu assinei na condição de procurador da empresa, baseado na anotação de responsabilidade técnica de um laudo de uma empresa internacionalmente reconhecida e de duas equipes de geotecnia. Confiei e continuo confiando na equipe que gerou essas informações”, afirmou. Questionado por Correia, sobre e-mail de Makoto Namba dizendo que a barragem poderia se romper e não tinha estabilidade, Grandchamp respondeu desconhecer anomalia que colocasse a barragem em risco. “Eu tenho plena confiança que o trabalho executado pelas três equipes foi de alto nível". A declaração gerou revolta nos parlamentares, como foi o caso do deputado Igor Timo (Pode-MG). "Até agora, com toda franqueza, eu não vi ninguém tão responsável por esse crime quanto o senhor”, afirmou. Timo criticou o comportamento da testemunha. “Além de assinar a morte desse tanto de gente, falar que o trabalho foi bem feito? Que brincadeira de mau gosto e que falta de respeito com as famílias que perderam seus entes", completou. Sucessor de Grandchamp na gerência de geotecnia da Vale, Renzo Albieri Carvalho também não detectou problemas que indicassem a ruptura da barragem em Brumadinho. "A gente lamenta muito o que aconteceu porque, até o momento da ruptura, a equipe de geotecnia operacional que eu assumi sempre trabalhou acreditando na estabilidade da estrutura. Inclusive, a minha equipe estava presente nas estruturas da mina do Córrego do Feijão quando a ruptura ocorreu".
Alertas Deputados citaram documentos da própria Vale e da Tüv Süd relatando os alertas de piezômetros, radares e outros equipamentos que apontaram, por exemplo, a necessidade de uso de drenos e de reforço estrutural na barragem. Os dois gerentes da Vale argumentaram que os radares estavam em teste e que eventuais alertas não foram confirmados durante as vistorias in loco. Outro gerente ouvido, Joaquim Pedro de Toledo, disse que somente as investigações
técnicas em curso poderão explicar o rompimento da barragem em Brumadinho.
Grandchamp, Carvalho e Toledo chegaram a ser presos temporariamente em fevereiro. Mesmo soltos, estão afastados das atividades na Vale por recomendação do Ministério Público.
Novos requerimentos Nesta terça, a CPI aprovou a quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático do ex-presidente da Vale, Fábio Schvartsman, e de outros executivos e gerentes da mineradora, como Joaquim Pedro de Toledo, Renzo Albieri Guimarães Carvalho, César Augusto Grandchamp, Alexandre de Paula Campanha e Peter Poppinga. Os deputados também convocaram os funcionários da Vale diretamente ligados à execução do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM) e diretores da empresa Alphageos, responsável pelos drenos horizontais profundos (DHP) colocados na barragem da mina do Córrego do Feijão. Há suspeita de que erros na instalação desses drenos tenham funcionado como "gatilho" para o rompimento da estrutura. Outro requerimento aprovado solicita à Defensoria Pública de Minas Gerais informações sobre os parâmetros que orientaram o Termo de Compromisso firmado entre o órgão e a mineradora Vale para a realização de acordos individuais dos atingidos e como procederá a Defensoria em relação à informação sobre o potencial minerário da região coberta pela lama após o rompimento da barragem, em Brumadinho.